PERFUME: A HISTÓRIA DE UM ASSASSINO

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Um Assassino Em Busca De Um Perfume Perfeito

 

O filme Perfume – história de um assassino é baseado no livro de Patrick Süskind, lançado em 1985 e vendeu mais de 15 milhões de exemplares em todo o mundo. Traduzido em 45 países, o romance chegou ao Brasil naquele mesmo ano.

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Capa do livro

 

O alemão Bernd Eichinger (O Nome da Rosa) produziu o filme, que foi rodado na Alemanha/Espanha e França, em 2006, e revela a atmosfera de Paris, do século xviii, numa adaptação fiel ao livro.

A música Scentless Apprentice (Aprendiz sem odor) é do Nirvana e teria sido inspirada em O Perfume, livro preferido de Kurt Cobain, líder da banda, morto por overdose, em 1994 (Folha de São Paulo, fev.2007).

O Perfume narra a história de Jean-Baptiste Grenouille, nascido debaixo de uma banca, onde sua mãe vendia peixes, num reduto fétido de Paris, em 1738.

Os peixes, provavelmente retirados do rio Sena, já fediam e se sobrepunham ao mau cheiro daquele lugar. A mãe de Grenouille teve cinco partos, resolvidos ali mesmo na peixaria, cortando o cordão umbilical com a mesma faca que cortava os seus peixes.

As crianças nasceram mortas, mas Grenouille teimou em não aceitar o mesmo destino de seus irmãos e sobreviveu apesar da tentativa de infanticídio por parte da mãe, que é executada por isso.

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Madame Gaillard e Grenouille, aos 5 anos

 

O menino começou a falar apenas com 4 anos de idade, mas mal se comunicava. Depois, foi criado num orfanto e sobreviveu às agressões dos colegas que tentaram por várias vezes sufocá-lo com os trapos que cobriam seu corpo magro. Para o pequeno Grenouille, o estabelecimento de Madame Gaillard foi uma bênção. Uma mulher tão pobre por dentro, considerando que as crianças representavam apenas “dinheiro”, vendendo-as quando necessário. A velha cuidou dele até completar 13 anos de idade, quando Grenouille foi vendido para o dono do curtume local.

Lá, ele trabalhava de sol a sol e era um rapaz doce e diligente, apesar das péssimas condições de trabalho na fábrica de couros do Sr. Grimal. Era uma infância marcada pelo trabalho escravo infantil.

Nascido em circunstâncias adversas, sua vida continuou sendo uma questão de sobrevivência. Superou várias doenças e cresceu cheio de cicatrizes, magro e feio. Mas como recompensa, ainda muito jovem, percebeu que possuía um talento único de discernir os odores a seu redor, fato que caracterizava a sua refinada percepção olfativa.

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Jean-Baptiste Grenouille em Paris (Ben Whishaw)

 

 

Andando pelas ruas de Paris, seu faro levou-o até uma bela moça, de cabelos ruivos que usava um vestido cinza e vendida nectarinas. Caminhou em sua direção até se aproximar e sentir o cheiro intoxicante daquela jovem. O aroma era tão suave e fino que ele não conseguia retê-lo, fugindo à sua percepção à medida que ela se distanciava dele.

Grenouille tinha a sensação de que esse aroma seria a chave para ordenar todos os outros aromas e que não entenderia nada de aromas se não tivesse apreendido esse. Também percebeu que, sem a posse desse aroma, sua vida não teria nenhum sentido, nenhuma graça. Mas, precisava retê-lo e não conseguia. Ele sentiu um medo terrível de perdê-lo para sempre.

Ao entrar em contato com este cheiro entrou em êxtase e sabia que precisava capturar aquele odor e aquela beleza tão sublime. A moça devia ter uns treze ou quatorze anos. Quando ela percebeu que havia alguém cheirando seus cabelos, por de trás, ela se assustou e ameaçou gritar.

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Ben Whishaw e Karoline Herfurth

 

 

Grenouille deu um salto e tapou-lhe a boca. Sem querer, ao tentar mantê-la quieta, acabou matando a moça. E aquele momento marcará o resto de sua vida, impregnando suas lembranças, seus sonhos, seja de dia de ou de noite. Grenouille jamais pode esquecê-la.

Posteriormente ao ocorrido, O Sr. Grimal vende Grenouille à Giuseppe Baldini, um perfumista experiente de Paris e que percebe que o rapaz possui um olfato extraordinário e começa a cuidar dele, ensinando-lhe a arte de fazer óleos, essências e fragrâncias.

Mas, o rapaz logo supera seu mestre na manipulação de essências, ao descobrir novos aromas, bons ou ruins, isso não importava. Ele não era seletivo. Sua obsessão tornou-se a de descobrir todos os odores do mundo com o auxílio de Mestre Baldini. Seu olfato incomum, que lhe permitia distinguir, memorizar cheiros, com uma capacidade singular de detectar nuanças nos odores, fez que ele descobrisse vários aromas, enriquecendo, assim, seu Mestre.

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Mestre Baldini (Dustin Hoffman) e Grenouille (Ben Whishaw)

 

Como aprendiz na perfumaria, ele fica obcecado por descobrir como reter os cheiros e pede para o perfumista ensiná-lo. Jean-Baptiste começa a dar mostras de seu comportamento obsessivo em tentar conhecer todos os tipos de odores e retê-los, quando mata o gato de Baldini ao tentar destilá-lo, sem sucesso. Depois, ele parte para a cidade de Grasse, a capital mundial dos perfumes, por recomendação do Mestre Baldini para ter acesso a uma técnica de capturar o aroma e prendê-lo.

 

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Grenouille e sua coleção de perfumes

 

Antes de chegar à cidade, ele encontra uma caverna e lá ele tem uma experiência mística, na qual percebe que seu corpo não tem odor nenhum. Isso faz com que ele perceba que a sua existência depende de seu próprio cheiro que não existia. Poderia até passar pelas pessoas despercebidamente porque não tinha cheiro. Quando era bebê, as amas-de-leite reclamavam de que aquela criança era estranha, porque não tinha odor algum, e não queriam ficar com ele.

 

CRIME E CASTIGO

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Os pensamentos e o cheiro

 

Grenouille buscava inconscientemente no corpo de suas mulheres o cheiro, que poderia levá-lo a estabelecer uma conexão com o amor, de uma forma inconsciente. Os seus pensamentos e o cheiro vinham involuntariamente.

Ele tinha medo de não existir porque descobre que nascera privado de qualquer odor pessoal e, segundo seus critérios, desprovido de identidade. A sua busca por uma essência simboliza a busca de sua própria essência, a busca de si mesmo. Então, seu desejo por capturar o mais sublime de todos os aromas, que são subtraídos de belas mulheres é uma tentativa de roubar-lhes as emanações e, principalmente, reter o odor.

Mas a sua obsessão torna-se mortal, ao colecionar aromas humanos, fazendo que se transforme em um assassino de jovens e belas mulheres. A ambição e a vaidade excessivas são características dos psicopatas, como os serial killers. Também, a busca de fortes sensações ao longo de sua vida evidencia uma tentativa de sentir o próprio corpo, compensando a falta de sentimentos.

Outra característica do psicopata é sua tendência em transformar seus atos em impulsos, frequentemente de modo antissocial e que não provoca culpa ou remorso. Tudo depende do grau de psicopatia do sujeito. O homicídio é um extremo de sua atuação. Ele tem necessidade de satisfação imediata.

Sabe manipular bem as pessoas para atingir seus objetivos e, por isso, muitos deles são bem-sucedidos, brilhantes em seus crimes, porque não deixam rastros, são implacáveis, dotados de inteligência, frieza e crueldade.

Jean-Baptiste Grenouille possui este perfil e reveste-se de uma “capa” de homem frágil, pobre e sem odor nenhum, isto é, passava entre as pessoas sem ser notado.

Em Grasse, seu objetivo era tornar-se um ser excepcional com a ajuda de seu olfato e fabricar o melhor perfume do mundo. O seu perfume final seria uma junção de odores retirados das mulheres que ele persegue e mata.

Nesta cidade, ele começou a trabalhar em uma fábrica de perfumes e lá aprendeu a destilar, por meio da técnica de enfleurage.

Lá conheceu Laura, uma jovem de cabelos ruivos, rosto com sardas e olhos verdes que o fez lembrar-se da moça de Paris, que matou por acidente. Fazendo o seu odor com frenezi, Grenouile precisava reter este aroma sublime.

 

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Laura Richis (Rachel Hurd-Wood)

 

A fragrância de certas pessoas, daquelas extremamente raras, que inspiravam amor, essas eram suas vítimas. Ele desistiu de se apossar de uma pessoa viva qualquer e trabalhar com ela “perfumisticamente”. Seu objetivo era roubar o odor de certas mulheres como Laura Richis.

A jovem dificilmente ficava sozinha, pois tinha um pai que não a deixava a sós, por tamanha beleza e medo de perdê-la, como perdera sua mulher.

Antonie Richis possuía uma única filha que acabara de completar 16 anos. Seu rosto era tão belo que ele recebia visitas de todas as idades e de ambos os sexos, que ficavam instantaneamente paralisados por tamanha beleza. Mesmo Richis quando olhava para a própria filha, contemplava-a como mulher e se amaldiçoava por suas tentações que lhe tiravam a paz.

No universo interior de Grenouille só existe a vontade de apoderar-se do mundo, da realidade que o cerca, através da uma ilusão, criando um perfume capaz de fazer com que todos o amem, por meio da vigésima quinta vítima, a mais preciosa, a mais importante para ele, Laura Richis.

Ela era objeto de desejo de um assassino que queria receber o amor, mas ele era totalmente incapaz de transmiti-lo e até de recebê-lo, como se pode perceber na cena em que ocorre um bacanal em plena praça pública, à luz do dia. Todos ali querem abraçá-lo, beijá-lo, e ele finalmente recebe o que tanto desejava que era o afeto. Mas ele só deseja fugir dali porque percebeu que desprezava toda a humanidade.

O pai de Laura era o vice-cônsul e também trabalhava com a fabricação de perfumes. Richis achou que estava no momento de arrumar um marido para a sua filha querida e pôs-se a escolher um marido.

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Antonie Richis (Alan Rickman)

 

Mas o momento na cidade de Grasse era conturbado com vários assassinatos, com moças encontradas mortas, nuas, com a cabeça raspada. O pânico invade as pessoas que correm para proteger as suas filhas.

Richis não sabe que o assassino deseja apenas a beleza e a juventude daquelas mulheres, sendo a maioria virgens. Grenouille nunca as atacou sexualmente.

Grenouille procurava o ingrediente final para compor o seu aroma ideal. Um assassino em busca de um perfume perfeito. Sua ambição não é enriquecer e nem pretende a fama; ele persegue o sonho de dominar os corações dos homens criando um perfume único, capaz de suscitar o mais profundo amor em quem o cheirar.

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Grenouille confeccionando seus perfumes

 

Um amor dedicado a ele, Grenouille, que só conhece o desprezo e ódio. Ele sabe que existe, mas sem odor, sem marca, sem identidade, vive numa obscura letargia, vive como se fosse um sonâmbulo pelas ruas. A única vontade que possui dentro de si é de descobrir a fragrância do amor, da existência. Rouba dos outras a existência, porque não a possui. O aroma de certas mulheres que tanto busca é para compensar o cheiro que ele não tem, porisso, vampirisa o odor e a beleza das mulheres, tentando compensar o que lhe falta.

Como nunca recebeu o afeto, vive encapsulado em si mesmo e incapaz de qualquer tipo de doação ao mundo. Sua comunicação é precária, sua expressão é pobre, sem um sorriso, um grito, um sussurro qualquer. Seu verdadeiro crime é sua incapacidade de amar, de se doar, segundo o autor do romance, Süskind (1985).

 

 

O OLFATO E A ATRAÇÃO

SEXUAL

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O objeto do seu desejo

 

 

Algo comum aconteceu com Grenouille: seu olfato desempenhando um papel muito importante, ainda que inconsciente, na atração sexual que sentia pelas mulheres que matava (Viver Mente & Cérebro, maio/2007).

Não era qualquer mulher que ele escolhia para apoderar-se de seu odor. Seu olfato selecionava e também escondia segredos da atração. São escolhas além da sua consciência e que podem ser resultado de jogos de projeções, ou seja, quando vemos naqueles que nos atraem aspectos nossos ou emoções do nosso passado que são frequentemente reeditadas.

O olfato é o sentido mais antigo de todos, até mesmo as bactérias conseguem distinguir entre substâncias nutritivas e nocivas cheirando seu ambiente. Embora a precisão da olfação humana seja ridícula perto da de outros mamíferos, como os cães e roedores. Mesmo assim, dispomos de 347 tipos de neurônios sensoriais no epitélio olfativo. Cada um deles detecta um tipo diferente de odor. Nosso repertório de odores resulta de todas as possíveis combinações dessas centenas de receptores. Os feromonios estão envolvidos com a seleção de parceiros e na reprodução em praticamente todo o reino animal. Muitas espécies distinguem sexo, posição social, território e status reprodutivo do potencial parceiro pelo faro. Em seres humanos esses processos são mais complexos, mas há indícios de que as pessoas troquem mensagens secretas e inconscientes através de feromonios. Para sentir um odor é necessário que moléculas muito pequenas e voláteis flutuem por grandes distâncias. Já os feromonios podem até ser moléculas grandes e pesadas, desde que o contato entre os indivíduos seja íntimo, como nos beijos. Eles excitam terminações neuronais que transmitem sinais diretamente para as regiões do cérebro que controlam o comportamento sexual. Uma estrutura discreta e delicada que conecta o nariz ao cérebro e que passou séculos despercebido pelos cientistas; o nervo Zero foi originalmente identificado em tubarões e em baleias (Viver Mente & Cérebro, maio/2007).

Assim, o nervo Zero e as reações inconscientes são as chaves para compreender as escolhas inconscientes deste personagem, e as mulheres pelas quais ele sentia a atração intensa pelo seu odor.

 

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Elaboração do cheiro

 

Quando referimos os desejos humanos, faz-se necessário esclarecer que os desejos conscientes são aqueles que transitam livremente no nosso aparelho psíquico e não apresentam nenhuma dificuldade para a sua localização, porque aparecem de forma clara, embora quando aparecem na consciência eles podem perturbar.

Mas os desejos inconscientes são objetos de repressão, por isso mais difíceis se serem identificados. O objeto de desejo, bem como a maior parte das motivações para a escolha de um parceiro amoroso, dificilmente é claro à consciência.

Para os psicólogos o presente está de alguma forma unido ao passado, quanto à escolha do parceiro atual que representa uma ou mais pessoas importantes dos tempos mais remotos de nossa vida. O que ocorre é um deslocamento do passado para o presente e os mesmos desejos e sentimentos que se apresentaram naquela ocasião retornam aqui e agora, sem que seja realizada uma conexão. A realidade e a fantasia se misturam, o presente se mistura ao passado.

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A moças das nectarinas

 

 

Para Sigmund Freud (1856-1939), as relações amorosas seguem determinados estereótipos que se repetem continuamente, por toda a vida, ou seja, enfrentamos as experiências amorosas do passado e depois transportamos estas experiências para o presente, que configuram uma situação na qual passado e presente se misturam num jogo de projeções, vemos naquele que nos atrai o que está em nós ou que faz parte de nossa história (vivida, fantasiada ou desejada).

Para Freud, amamos para não adoecer e adoecemos se não somos capazes de amar. Para Grenouille não foi possível amar e nem ser amado, portanto, adoeceu de uma psicopatia.

Segundo o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), em seus estudos percebeu que o homem procura sua identidade no sexo, a sexualidade desperta fascínio por expressar poder e ocultar sentidos. É por meio do sexo que o indivíduo revela quem é, liberando o que o define.

 

 

 

O DEUS MITOLÓGICO PAN E 

UMA CONEXÃO COM O

PERFUMISTA GRENOUILLE

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Pan

 

 

Jean-Baptiste Grenouille faz recordar o deus mitológico Pan, que significa “tudo”. É um ser meio homem, meio animal, com torso humano, coberto de pelos negros e a cabeça e pés de bode. Gostava de assustar os homens com suas aparições bruscas, o que deu origem ao termo “Pânico” (terror, pânico). A imagem de Pan está associada à loucura, ao pânico, à epilepsia.

Símbolo da natureza é representado, costumeiramente, com chifres, para expressar os raios de sol e a força agressiva de Áries; com as patas cheias de pêlos, para expressar a vitalidade do inferior, da terra, das plantas e dos instintos; e, também, com seu aspecto involutivo dirigido especialmente para o inferior (Cirlot, 1984).

Na mitologia grega, cada deus a seu modo mostra que a psique reflete o divino e a ele se apega. Mas é Pan, em que toda e qualquer manifestação ganha sentido, quem confere aos jogos eróticos tonalidade abrangentes, das mais suaves às mais exuberantes, tornando-se o personagem que podemos evocar na busca de uma possível compreensão para os atos do personagem de o Perfume.

Pan (ou Pã) vivia entre vales, florestas e campos, nunca em vilarejos ou estabelecimentos murados. O ser mitológico gostava de locais úmidos e escuros, é um deus dos pastores, pescadores e caçadores. Tanto sua linhagem materna quanto paterna é atribuída a uma ou outra divindade. Só acerca de sua paternidade existem aproximadamente 20 versões. Recolhimento, solidão e apreço pela natureza são qualidades marcantes do espírito de Pan, que podemos fazer uma relação com nosso mundo interior.

O hino homérico a Pan, escrito por Hesíodo na Antiguidade, faz uma descrição do recém-nascido: “Era maravilhoso de se olhar, com pés de bode e dois chifres, uma criança alegre, que dava risadas de puro contentamento”. No mínimo, uma figura curiosa, metade gente, metade bicho, pura manifestação das forças instintivas.

Abandonado logo depois do nascimento, como Grenouille, ele foi deixado ao relento envolto numa pele de lebre, um animal particularmente consagrado à sedutora Afrodite, sugerindo a presença da luxúria erótica oculta sob o disfarce suave e macio.

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Mosaico de Pan

 

 

Já adulto, Pan tornou-se amante da música, trazendo sempre consigo uma flauta, o que aponta para sua sensibilidade criativa.

Pan evoca todos os assuntos que envolvem o corpo e o sexo. Ele se mostra nas masturbações, nas poluções noturnas, nos pesadelos, na loucura, no estupro (como metáfora para o desvirginamento da psique), nos encontros eróticos, na dificuldade de estabelecer vínculos, e até mesmo, na atração sexual por pessoas idealizadas, que nada mais são do que construções fantasiosas a respeito de uma imagem desejada, que nem sempre confirma as expectativas projetadas.

Pan teve várias amantes e a principal delas foi Eco. Pan reverbera em Eco a essência instintiva de sua divindade, visto que a não existência de Eco (já que ela foi transformada em som e apaixonada por Narciso) contrabalança a presença de Pan nesta parceira. O deus-bode simboliza a união do corpo com os instintos. E buscar no mito deste deus, os processos subjetivos fundamentais que regem a atração entre os pares, é interessante, pois, para haver transformação são precisos parceiros, pelos quais se têm afinidades, e Pan tem muita afinidade com as ninfas, o que significa que estão necessariamente vinculados e são a mesma manifestação da natureza interior. Assim como personificações de nuvens, neblina, encostas, veios d´água, as ninfas pertencem ao mesmo cenário interior, no qual Pan pode ser encontrado.

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Pan e Syrinx

 

 

Conta a lenda que Syrinx, uma de suas parceiras prediletas, rejeitou seu amor com desdém, por ele ser metade homem e metade bode. Para fugir, ela teria corrido até as margens do rio Ladon, onde pediu às ninfas dos rios que a transformassem em bambu. O deus-bode teria ficado tão encantado ao ver a planta, que resolveu usá-la para construir sua flauta (Viver Mente & Cérebro, maio/2007).

O personagem Grenouille tem características semelhantes às de Pan, por revelar sua inclinação para a satisfação dos desejos imediatos, como uma criança que não pode esperar, bem como a sua solidão, a reclusão, a escolha por viver em grutas e florestas etc.

Os mitos gregos podem funcionar como uma espécie de “tradução”; por meio de uma imagem mitológica, pode-se compreender o comportamento do homem, quando da necessidade de realizar uma ‘compreensão’ mais abstrata e simbólica da realidade. Assim, o deus Pan representa o nosso mundo interior e suas forças instintivas.

O mito é um mediador entre o oculto e o revelado, entre o nosso inconsciente e o nosso consciente, que nos possibilita realizar uma leitura subjetiva e simbólica de nossa existência bem como, nos permite ter o acesso ao conhecimento de nós mesmos.

Grenouille, além de se revelar um psicopata, consequência da falta de afeto que sofreu, originou no seu medo de não existir, a busca de uma essência perfumistica, que é uma metáfora da busca de si mesmo, de sua essência, de sua alma. E segundo o personagem Mestre Baldini:

 

“A ALMA DOS SERES É

O AROMA DELES.”

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

Cirlot, Juan-Eduardo. Dicionário de símbolos. São Paulo: Moraes, 1984.

Folha de S. Paulo, fevereiro de 2007.

Revista Viver Mente & Cérebro, maio de 2007.

Revista VEJA, janeiro de 2007.

Süskind, Patrick. Perfume: a história de um assassino. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 1985.

Sites consultados:

Fotos

Disponível em: www.perfumefilme.com.br Acesso em janeiro de 2007.

Disponível em : www.adorocinema.com.br Acesso em setembro de 2007.

Disponível em: www.google.com.br Acesso em setembro de 2007.

Filme:

Título: Perfume: a história de um assassino

Ano: 2006

Países: Alemanha, Espanha e França

Direção e roteiro: Tom Tykwer, Andrew Birkin e Bernd Eichinger

Elenco: Dustin Hoffnan, Ben Whishaw, Karoline Herfurtt, Alan Rickman e Rachel Hurd-Wood

DVD - 147 minutos

Comentários

Aline disse…
Meus parabéns pelo texto! estou agradecida por ter aprendido mais sobre todo o conflito psicológico que esse filme apresentou.

obrigada!
Anônimo disse…
Muito bom! parabéns pela analise, foi de grande utilidade!
maguinhap disse…
Li parte do livro anos atrás, saí do emprego onde tinha o livro é ele ficou pela metade... RS... agora estava me lembrando e dei uma googlada... com palavras chave, o Google me deu o nome do livro é até me esclareceu achem o filme. Agora é encontrar o livro pra terminar o filme pra assistir...
Outsiders disse…
A adaptação pro cinema dessa parte da orgia foi claramente deturpada do sentido original do livro, Jean Baptiste Grenouille amava somente sua obsessão por cheiros, perfumes em geral e sua obsessão por fazer o perfume perfeito e nada mais, ele amou o cheiro da ruiva e não a moça, ele queria se vingar da sociedade; e quando conseguiu subjugar todos se sentiu insatisfeito e vazio, porque ele estava mostrando todo o seu nojo e desprezo pelo povo e eles estavam não o odiando e sim o amando, ele queria triunfar sobre eles e queria o ódio deles com isso, mas o q ele conseguiu foi a adoração, então ele não queria amor e sim triunfar, mas quanto mais ele os odiava mais eles o amavam, no bacanal ele sentiu nojo e desprezo da situação, o personagem é de certa forma superior aquela animalidade sexual, achando aquilo grotesco e bestial, no filme deturparão os sentimentos e pensamentos de Grenouille assim como toda a cena, mostrando a animalidade como algo puro e elevado.

O filme ficou muito bom, Jean Baptiste Grenouille foi muito bem representado , fazendo jus ao livro, é um personagem sombrio mas que quando bem analisado se torna cativante apesar de seus crimes. O cenário da antiga Paris na história e do nascimento de Grenouille foram maravilhosamente representados também, corresponderam aos que me passavam na cabeça durante a leitura do livro. Muitos detalhes bacanas do livro foram breves demais , mas é aceitável visando que o filme tem apenas 2h27m. O final é bom sim, não é apenas uma orgia sem sentido. Grenouille descobre que mesmo com a criação do perfume as pessoas não o amam e nem vão o amar de verdade , sendo assim o sentido de sua vida acaba ali, então ele vai a um "beco" cheio de pessoas em estado de vida degradante , como prostitutas, mendigos, bandidos , e derrama todo o perfume em si mesmo , sendo comido vivo. O final me fez pensar que ele apenas queria ser amado e que este foi seu objetivo durante todo o filme.

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